Grande greve na <i>Visteon</i><br> contra madrugadas em saldo

Junto à portaria principal da fábrica da multinacional norte-americana, que emprega cerca de 1200 pessoas, Paula Sobral e Luís Benedito, do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas, deram conta da adesão praticamente total que tem tido a greve ao trabalho extra, desde 1 de Agosto, tanto nas linhas de montagem como na manutenção. Isto reflecte o grande descontentamento suscitado pela decisão da direcção portuguesa, que avançou sem esperar qualquer indicação do Grupo Visteon e após ter recusado aumentos salariais em 2012 – apesar de a unidade de Palmela ter aumentado os lucros em dez por cento (para 8,8 milhões de euros, em 2011).

Depois de a direcção da fábrica ter declarado que pretendia reduzir o pagamento do trabalho suplementar, para os mínimos admitidos no Código do Trabalho, os trabalhadores fizeram contas ao que perderiam, se aceitassem abdicar do contrato colectivo de trabalho. À delegação do Partido e à nossa reportagem foi dado o exemplo de uma mãe que trabalhe no turno da tarde, a quem seja pedido para fazer mais quatro horas (da uma às cinco da manhã):

- perderia as correspondentes quatro horas de descanso compensatório remunerado;
- seria remunerada com um acréscimo de 25 por cento na primeira hora e de 37,5 por cento nas restantes (metade do previsto no contrato), o que poderia significar, na maioria dos casos, ganhar
15 ou 20 euros;
- continuaria a sofrer na sua vida pessoal e familiar e na sua saúde os efeitos do trabalho prolongado, sob ritmos tão intensos e com horários tão alargados.

No caso do trabalho ao sábado ou em dia feriado, a Visteon pretende retirar o descanso compensatório (duas horas e 15 minutos por cada dia de laboração) e pagar apenas mais 50 por cento acima do valor do trabalho em horário normal), quando hoje as trabalhadoras recebem mais 125 por cento, nas quatro primeiras horas, e mais 150 por cento, nas horas seguintes.

Perante a recusa generalizada do trabalho suplementar, nestas condições, a empresa anunciou que iria precisar de pessoal para o terceiro turno (particularmente penoso, já que funciona durante a noite e madrugada). Se havia alguma ideia de que isto poderia ser uma forma de pressionar, para que a diminuição do valor das horas extra fosse aceite, ela foi desmentida com a reacção das trabalhadoras, que declararam preferir trocar de turno, em vez de trabalharem de borla. E, afinal, o alargamento do terceiro turno acabou por ficar restringido a menos de metade do número de trabalhadores que a direcção inicialmente apontara.

A greve começa já a ter reflexos no volume de produção e perturba prazos de entrega, mas os trabalhadores estão unidos e conscientes de que não foram eles a criar o problema. A solução está nas mãos da direcção da fábrica: manter o que vigorava até 31 de Julho.




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